As bruxas do 1925

Quero só ficar aqui, ao lado de minha Mãe. Na casa dela. Ouvindo pássaros cantar no jardim da casa dela. Eu gosto muito de minha Mãe. Hoje já conversamos muito lá no quarto. Ela precisa de estímulos para que o cérebro não se atrofie. Só a TV não basta. Ela precisa também de carinho, de contato amoroso, de massagens, de toques harmoniosos. E aqui ninguém faz isso com ela. Repito: ninguém. Certas pessoas são incapazes de demonstrar amor, e até mesmo de sentir amor. Por isso é que fico sempre ao lado de minha Mãe quando estou aqui. Nesses primeiros onze dias ainda não saí de casa (exceto uma vez para comprar leite Ninho na padaria da esquina). 

As pessoas que eu amo raramente morrem.

O café vai sair, mas bolo sei que não. Por quê? Ora, porque ontem eu disse que gostei muito do bolo... A propósito, ontem a Eloisa escondeu o resto do bolo no quarto dela. E disse pra Cleide que "bolo é um só por dia. Se acabar, não deve fazer outro..."

Vou agora escrever um pouco mais no texto Acaso.doc 
Edson. 14h50. 12.01.2011.

Não queira ensinar um crocodilo a dançar tango.


Eu preciso de material para meus romances. Alguns dos meus livros precisam de horrores. Por isso eu ressalto aqui certas coisas que estão acontecendo nesta minha visita a Itararé. 

São 19h26 de 12.01.2011. Eliane fez sanduíches na quantidade certa. Ou seja, para todos, menos o meu. Sem convite para mim. Eu estou sentado aqui fora, na cadeira verde, escrevendo. 

E eu ainda ouço as risadas delas lá na cozinha. O assunto era esse. O Rafael vai sair para comprar os hamburgers. E a Eliane grita
— É só oito mesmo?
— Sim, é só oito! — alguém responde.
E soltam gargalhadas.

(A imaginar o modo maravilhoso como eu tratava essas pessoas em minhas casas no Guarujá...)

Jéssica até que portou-se bem: mandou Mahara agora me convidar aqui na área, meio sem graça. Mas acho que foi minha Mãe que, já estando lá na cozinha, instou-as a me fazer o convite. Claro que eu agradeci, mas não aceitei. Mesmo porque todos os OITO sanduíches já tinham sido distribuídos... 

Quero relatar esses fatos, mas acho que vou parar por aqui, porque já está ficando redundante. Até hoje não houve, e acho que nem haverá convite para nenhuma refeição. Vou continuar almoçando junto com minha Mãe, simulando uma cara de pau que não tenho, mas só para provocar as bruxas. Vou simular que sou parte desse grupo neurótico que essas minhas irmãs ainda chamam de “família”. 

Reafirmo que preciso salvar minha Mãe desse ambiente doentio. Aqui Ela é mal tratada. Assim que voltar ao Guarujá implementarei esse projeto. Nem que eu precise voltar a morar uns tempos em Itararé, comprar ou alugar uma casa, contratar uma enfermeira, talvez a Cleide também. Mas será imprescindível salvar minha Mãe. Salvar minha Mãe desse trio de neuróticos que tomam remédios psiquiátricos tarja preta, que tomam soníferos para fugir da responsabilidade de cuidar da Mãe durante a noite. 

Depois vou contar o que aconteceu quando, certa vez (depois eu coloco aqui a data certa) a Mãe gemeu muito durante a noite. Quando a Cleide chegou, eu contei pra ela, e então a Eloisa fez um escândalo. Gritou com a Mãe!!!

Um dia ainda vou esclarecer essas coisas todas. Em futuro próximo. Antes que a Eloisa e a Eliane morram, que é para uma delas poder confirmar.

(...)

Este livro está sendo criado a partir das 85 páginas que escrevi na Casa da Mãe. O texto acima vem do original, sem revisão.


Algumas fotos daquele tempo.






Estou procurando a foto da toalha que me deram.


Por falar em toalha, eu me lembro da toalha que minhas irmãs (Eloisa e Eliane) me deram no primeiro dia (em que fui visitar minha Mãe). Era uma toalha feia, ressecada, encardida, azul desbotado, com a marca da Santa Casa de Misericórdia de Itapeva. Mas essa também é outra história...


A vela que Eloisa acendeu na mesa do almoço no dia 14.01.2011.

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